quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Sobre Pesquisas Eleitorais


Depois de muito tempo com este blog inativo, estou de volta.
Estava e ainda estou meio ocupado com a seleção do mestrado.
Hoje terminei o projeto e reuni todos os documentos para enviar para Viçosa. Agora é aguardar o resultado da primeira fase e aguardar que me chamem para fazer a prova teórica e entrevista.

Se o blog continuar inativo, é porque estou estudando para o Mestrado, e isso consome todo meu tempo e mais que isso, a inspiração.

Enfim, Em épocas de eleições sempre rola polêmicas quanto a divulgação das pesquisas de opinião que buscam medir as intenções de voto

Sou cientista social, isso não quer dizer nada, mas vou tentar pelo menos colocar a discussão que rola na academia sobre as pesquisas eleitorais.

Em grandes linhas, o debate sobre a regulação das pesquisas desdobra-se em duas principais dimensões. A primeira delas relaciona-se ao significado político da opinião pública. A defesa da livre divulgação de prévias eleitorais tem como principal argumento o direito básico à informação e ao conhecimento pelos eleitores do movimento das forças políticas durante a campanha. Esse argumento reconhece a opinião pública como um importante agente político das sociedades democráticas, que intervém e regula as instituições e que expressa a autonomia dos indivíduos na sua relação com o sistema político. Dessa forma, quando são apropriadamente realizadas e utilizadas pelos meios de comunicação, as pesquisas têm um papel significativo na dinâmica da democracia e constituição dos poderes.


Por outro lado, para os que são contrários à divulgação das pesquisas, o argumento central reside em considerar a opinião pública um espaço sem autonomia, que não expressa uma sociedade articulada em interesses, resumindo-se à expressão de indivíduos atomizados, facilmente manipuláveis pelos agentes do jogo político. Em linhas gerais, afirma-se que a dinâmica democrática da sociedade de massas deve constituir suas bases de legitimidade em estruturas mais sólidas do que os efeitos promovidas por informações de momento, que conduzem os cidadãos a atitude meramente reativas nos processos políticos. Nesse sentido, como fontes de informação dos eleitores, os resultados das pesquisas exerceriam uma influencia indevida nas eleições, dadas as possibilidades de erros e de manipulação (que é muito diferente de fraudar) das informações pelos agentes do jogo político.

A segunda dimensão da polemica sobre as pesquisas diz respeito ao impacto das informações sobre o processo de decisão do eleitor. Não parece haver dúvida quanto ao fato de que os resultados das pesquisas exercerem algum tipo de efeito sobre a decisão de voto. A absorção dos resultados pelos agentes de socialização e intermediários culturais que realizam a inclusão do eleitorado na esfera da disputa política, sobretudo os meios de comunicação, torna praticamente impossível que as prévias eleitorais não sejam somadas ao amplo conjunto de informações que orientam as preferências dos cidadãos. A discussão reside, portanto, na intensidade do efeito das pesquisas e aqueles que defendem as restrições de divulgação têm a seu favor uma extensa produção bibliográfica que aponta o real impacto das predições eleitorais sobre o comportamento do eleitor.

A tese mais freqüente baseia-se na idéia de que sua divulgação conduz parte significativa do eleitorado a votar no candidato que à frente nas pesquisas, contaminando que está a frente nas pesquisas, contaminando a opinião pública e distorcendo o curso natural dos resultados. Essa hipótese de influência denominada bandwagon effect (uma metáfora que faz alusão ao vagão de circo que conduz a banda, colocado sempre à frente da caravana) afirma que os resultados das prévias eleitorais colocam uma pressão social sobre os eleitores indecisos, que são conduzidos a votar no candidato apresentado com chances de vitória.

As hipóteses da influência abordam ainda outros efeitos da percepção das informações das pesquisas pelo eleitor, como a hipótese do inderdog effect, que define, a tendência do voto no candidato que está em último lugar, e a hipótese do voto estratégico (o voto útil), que resulta do cálculo das chances de evitar uma maioria específica e define o voto do eleitor em uma segunda opção.

Por outro lado, alguns estudos têm mostrado que os efeitos do conhecimento pelo eleitorado de resultados de pesquisas eleitorais têm um impacto menor sobre o processo de decisão do voto. Esses estudos apontam que esse impacto é dependente de situações específicas do jogo político, e ocorrem em geral quando as situações de disputa eleitoral são acirradas. Além disso, a influência das pesquisas depende em parte do grau de confiabilidade estabelecida no contexto das campanhas políticas.

No caso brasileiro, alguns estudos sobre o papel das pesquisas nas campanhas indicam que há uma superestimação do voto. Análises realizadas sobre as eleições presidenciais de 1989 e 1994 indicam que seu papel foi limitado, e que as fontes interpessoais e a propaganda televisiva, notícias e debates, foram meios muito mais poderosos de influência potencial sobre a decisão eleitoral. Os estudos mostram ainda que as pesquisas não figuravam como principal meio de informação política, e detinha razoável desconfiança e indiferença de parcelas consideráveis do eleitorado quanto aos resultados divulgados (se alguém quiser ter acesso às pesquisas, me peçam as referências que lhes envio).

Frente a todas essas questões que discutimos em nossas aulas, minha opinião é de que há uma grande dificuldade em dimensionar o impacto de meios de informação política sobre o processo de escolha política em contextos complexos, sendo isso, um dos pontos que alimentam a polemica da regulação das pesquisas. Os resultados não são consumidos de forma pura, interagem com a mídia e produzem a partir daí, uma realidade específica sobre o jogo político. Eu pessoalmente, não tenho nenhuma dúvida que uma pesquisa eleitoral, realizada da maneira correta, expressa a real intenção de voto daquele presente momento. Estamos falando de ciência, e também estamos sujeitos as suas manipulações pelos homens. A legislação prevê que as pesquisas sejam registradas no Tribunal Eleitoral, com informações indo desde a origem dos recursos, informações sobre metodologia, período de realização, questionário, até o plano amostral, que é elaborado de uma forma científica e exata.