sexta-feira, 13 de março de 2009

A Influência das Novelas no Comportamento do Brasileiro


Pessoas, uma grande indicação da minha colega mais internacional (Carla Rosa) mostra uma matéria que saiu no "The Economist" no dia 12 (ontem) dessa semana sob o título " Soaps, sex and sociology "

O artigo busca retratar a influência das novelas brasileiras, em especial as da Rede Globo, na vida cotidiana das pessoas. No final o autor faz até uma brincadeira.

Ele comenta que as novelas de certa forma não proporcionaram somente alienação, e que trouxeram algum impacto de bom sim, e se tem esse potêncial de trazer algo bom, que coloque em pauta a questão da reforma tributária. Se as novelas conseguissem fazer avançar a discussão, isso seria uma ótima!!!

A única questão é que o artigo está em inglês e eu não vou traduzir de maneira alguma.

O link está ai a baixo e quem manda bem na leitura pode se deliciar

Bom Fds pra todos!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Violencia sexual contra crianças não é novidade no ES


Queridos alunos, como tenho comentado em algumas salas de aula, assistimos recentemente o caso da menina de 9 anos que ficou grávida de gemeos nesses dias que se passaram.


Só pra lembrar, no Espírito Santo, na década de 70 do Séc. passado, passamos por uma situação bem pior que a da menina.


No dia 18 de maio de 1973, o Brasil inteiro ficou estarrecido com o brutal assassinato da menina Araceli Cabrera Crespo (foto acima) , de apenas oito anos de idade. A data se transformou no Dia Internacional Contra o Abuso Sexual a Crianças e Adolescentes. Os mistérios do Caso Araceli, com seus inúmeros questionamentos, até hoje rondam o imaginário dos capixabas. pra quem não conhece, vale a pena ler o texto que encontrei na net que estou postando ai abaixo.




ARACELI: SÍMBOLO DA VIOLÊNCIA . por Pedro Argemiro*


Durante mais de três anos, na década de 70, pouca gente ousou abrir a gaveta do Instituto Médico-Legal de Vitória, no Espírito Santo, onde se encontrava o corpo de uma menina de nove anos incompletos. E havia motivos para isso. Além de o corpo estar barbaramente seviciado e desfigurado com ácido, se interessar pelo caso significava comprar briga com as mais poderosas famílias do estado, cujos filhos estavam sendo acusados do hediondo crime. Pelo menos duas pessoas já tinham morrido em circunstâncias misteriosas por se envolverem com o assunto.

Ainda assim, corajosos enfrentavam os poderosos exigindo justiça, tanto que o corpo permanecia insepulto na fria gaveta, como se fosse a última trincheira da resistência. O nome da menina era Araceli Cabrera Crespo e seu martírio significou tanto que o dia 18 de maio - data em que ela desapareceu da escola onde estudava para nunca mais ser vista com vida - se transformou no Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Por uma dessas cruéis ironias, Jardim dos Anjos era onde ficava um casarão, na Praia de Canto, usado por um grupo de viciados de Vitória (ES) para promover orgias regadas a LSD, cocaína e álcool, nas quais muitas vítimas eram crianças - anjos do sexo feminino. Entre a turma de toxicômanos, era conhecida a atração que Paulo Constanteen Helal, o Paulinho, e Dante de Brito Michelini, o Dantinho, líderes do grupo, sentiam por menininhas. Dizia-se, sempre a boca pequena, que eles drogavam e violentavam meninas e adolescentes no casarão e em apartamentos mantidos exclusivamente para festas de embalo. O comércio de drogas era, e é muito enraizado naquela cidade. O Bar Franciscano, da família Michelini, era apontado como um ponto conhecido de tráfico e consumo livres.

Suspeitas sobre a mãe da menina

Araceli vivia com o pai Gabriel Sanches Crespo, eletricista do Porto de Vitória, a mãe Lola, boliviana radicada no país, e o irmão Carlinhos, alguns anos mais velho que ela. Na casa modesta, localizada na Rua São Paulo, bairro de Fátima, era mantido o viralata Radar, xodó da menina, que o criava desde pequenino. Segundo o escritor José Louzeiro que acompanhou o caso de perto e o transformou no livro "Araceli, Meu Amor" - o nome Radar foi escolhido pela garota "para que o animal sempre a encontrasse". Araceli estudava perto de casa, no Colégio São Pedro, na Praia do Suá, e mantinha urna rotina dificilmente quebrada. Ela saía da escola, no fim da tarde, e ia para um ponto de ônibus ali perto, quase na porta de um bar, onde invariavelmente brincava com um gato que vivia por ali.


No dia 18 de maio de 1973, uma sexta-feira, a rotina de Araceli foi alterada. Ela não apareceu em casa e o pai, num velho Fusca, saiu a procurá-la pelas casas de amigos e conhecidos, até chegar ao centro de Vitória. Nada. A menina não estava em lugar algum. Só restou a Gabriel comunicar a Lola que a filha estava desaparecida e que tinha deixado seu retrato em redações de jornais, na esperança de que fosse, realmente, somente um desaparecimento. No dia seguinte, quando foi ao colégio para conseguir mais informações, Gabriel ficou sabendo que a menina tinha saído mais cedo da escola. De acordo com a professora Marlene Stefanon, Araceli tinha "ido embora para casa por volta das quatro e meia da tarde, como a mãe mandou pedir num bilhete".

Na véspera, Lola tivera uma reação aparentemente normal ao constatar a demora da filha em chegar em casa. Primeiro, ficou enervada; depois, preocupada. No sábado, tarde da noite, sofreu uma crise nervosa e precisou ser internada no Pronto Socorro da Santa Casa de Misericórdia. Ainda no início do processo, acabariam pesando sobre ela fortes suspeitas e graves acusações. Lola foi apontada como viciada e traficante de cocaína, fornecedora da droga para pessoas influentes da cidade e até amante de Jorge Michelini, tio de Dantinho. E mais: ela era irmã de traficantes de Santa Cruz de La Sierra, para onde se mudou tão logo o caso ganhou dimensão, deixando para trás o marido Gabriel e o outro filho, Carlinhos. Não se sabe até onde Lola facilitou ou estimulou a cobiça dos assassinos em relação

Menina era usada no tráfico de drogas

A respeito de Dantinho e de Paulinho Helal, dizia-se que uma de suas diversões durante o dia era rondar os colégios da cidade em busca de possíveis vítimas, apostando na impunidade que o dinheiro dos pais podia comprar. Dante Barros Michelini era rico exportador de café (tão ligado a Dantinho que chegou a ser preso, acusado de tumultuar o inquérito para livrar o filho). Constanteen Helal, pai de Paulinho, era comerciante riquíssimo e poderoso membro da maçonaria capixaba. Seus negócios também incluíam imóveis, hotéis, fazendas e casas comerciais. Já o eletricista Gabriel, seu maior tesouro era a filha. No domingo, ele foi à delegacia dar queixa, onde lhe foi dito que tudo seria feito para encontrar Araceli. Na Santa Casa, ele contou a Lola o resultado de sua busca e falou da garantia dos policiais de que tudo acabaria bem. Lola pareceu não acreditar - e chorou. O escritor José Louzeiro não tem dúvida:


Lola foi, indiretamente, a causadora do hediondo crime de que sua filha foi vítima. "Na sexta-feira, a mando da mãe, Araceli tinha ido levar um envelope no edifício Apoio, no Centro de Vitória, ainda em construção, mas que já tinha uns três ou quatro apartamentos prontos, no 8º andar. A menina não sabia, mas o envelope continha drogas. Num dos apartamentos, Paulinho Helal, Dantinho e outros se drogavam. Ela chegou, foi agarrada e não saiu mais com vida", conta o escritor.

O que aconteceu realmente com Araceli Cabrera Crespo talvez nunca se saiba. E talvez, seja bom mesmo não conhecer os detalhes, tamanha é a brutalidade que o exame de corpo delito deixa entrever. A menina foi estupidamente martirizada. Araceli foi espancada, estuprada, drogada e morta puma orgia de drogas e sexo. Sua vagina, seu peito e sua barriga tinham marcas de dentes. Seu queixo foi deslocado com um golpe. Finalmente, seu corpo - o rosto, principalmente - foi desfigurado com ácido.

Corrupção e cumplicidade da polícia


Seis dias depois do massacre da menina, um moleque caçava passarinhos num terreno baldio atrás do Hospital Infantil Menino Jesus, na Praia Comprida, perto do Centro da capital. Mas o que ele encontrou foi o corpo despido e desfigurado de Araceli. Começou, então, a ser tecida uma rede de cumplicidade e corrupção, que envolveu a polícia e o judiciário e impediu a apuração do crime e o julgamento dos acusados por uma sociedade silenciada pelo medo e oprimida pelo abuso de poder.


Dois meses após o aparecimento do corpo, num dia qualquer de julho de 1973, o superintendente de Polícia Civil do Espírito Santo, Gilberto Barros Faria, fez uma revelação bombástica. Ele afirmou que já sabia o nome dos criminosos, vários, e que a população de Vitória ficaria estarrecida quando fossem anunciados, no dia seguinte. Barros havia retirado cabelos de um pente usado por Araceli e do corpo encontrado e levado para exames em Brasília. confirmando que eram iguais.Por que a providência? Até então, havia dúvidas que era de Araceli o corpo que apareceu desfigurado no terreno baldio. Gabriel sabia que era o da filha - ele o reconheceu por um sinal de nascença, num dos dedos dos pés. Mas Lola disse o contrário. Assim que se recuperou, ela foi ao IML reconhecer o corpo e afirmou que não era de sua filha. Louzeiro recorda um outro fato a respeito disso, altamente elucidativo. Certo dia, Gabriel levou o cachorro Radar ao IML só para confirmar, ainda mais sua certeza. Não deu outra: mesmo com a gaveta fechada, animal agiu realmente como um radar, como Araceli premonizara, e foi direto à geladeira onde estava o corpo de sua dona.


* Pedro Argemiro, redator da revista Crimes Que Abalaram o Brasil, de onde esta reportagem foi extraída.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Caçadores de Mito

Como tenho dito na sala de aula quando fazemos a explicação sobre Senso Comum X Conhecimento Científico, comento sobre o exemplo dos "Caçadores de Mitos".
pra quem não conheçe, segue o vídeo abaixo.
o exemplo é válido para mostrar como é o trabalho sistemático e metódico dos ciêntistas
.

Aproveitem.

domingo, 8 de março de 2009

Artigo no Jornal "A Tribuna"

Pessoal, aguardem que estou agilizando pra publicar no jornal "A Tribuna" o artigo abaixo:

A Participação na Gestão Pública Como Forma de Enfrentamento das Práticas Políticas Autoritárias
No último terço do século XX, o mundo assistiu a onda de redemocratização dos regimes autoritários ocorrida em várias partes do mundo, como no sul da Europa, nos anos 70, e posteriormente, nos anos 80 na América Latina e Leste Europeu. No Brasil, as profundas transformações ocorridas na economia e sociedade, especialmente no final dos anos 70, alimentaram uma conjuntura de lutas e reivindicações por mudanças no regime político e atendimento das demandas sociais, historicamente relegadas a segundo plano pelo Estado brasileiro.

Nesse contexto entra em pauta a questão da participação da sociedade civil na gestão dos negócios públicos e da necessária reconfiguração das relações entre Estado e sociedade. Estes processos de lutas e reivindicações desembocaram em mudanças políticas, institucionais e no processo constituinte, que se efetuaram na segunda metade dos anos 80. Como resultante, a Constituição de 1988 traduz o que anos de lutas tinham como objetivo de dar aos cidadãos, maior poder de intervir em sua realidade, constituindo-os como atores relevantes nas cenas e embates políticos. A participação social emerge como referencial de rupturas e tensões, e as práticas participativas associadas a uma mudança qualitativa da gestão assumem visibilidade pública e repercutem na sociedade.

Naquele momento, buscou-se evidenciar que a participação limitada a canais institucionais de representação eram exíguas no sentido de se ampliar o exercício da cidadania frente às propostas de participação direta na tomada de decisões, que tinham por potencial justamente a promoção e ampliação de direitos relativos à cidadania dos indivíduos.

A contribuição de espaços deliberativos na gestão pública tais como os comitês gestores e orçamentos participativos, é apontada por alguns autores como fundamentais para o fortalecimento de uma gestão democrática, integrada e compartilhada. A ampliação desses espaços de participação cidadã favorece qualitativamente a capacidade de representação dos interesses e a qualidade e equidade da resposta pública às demandas sociais, e possibilitando uma maior interlocução do Estado com a sociedade civil.

Acredita-se que se deve ter na democratização da gestão pública, a esperança de confrontamento das concepções elitistas de democracia, que enfatizam a tecnocracia e o autoritarismo na conduta do processo decisório no interior do Estado.

O aprofundamento da democratização da gestão pública promove um impacto positivo sobre a construção de uma cultura mais democrática na sociedade brasileira se considerarmos o padrão cultural excludente e autoritário na gestão das decisões e no planejamento das gestões. Os espaços públicos de participação devem ser encarados como uma forma de distribuição de recursos públicos e universalização de direitos na sociedade. Esta perspectiva aponta para possibilidade da prática participativa abarcar as diversidades existentes na atualidade, diminuindo sensivelmente o papel de práticas clientelistas e patrimonialistas na distribuição de bens públicos.

Se considerarmos que os baixos níveis de participação e organização cívica marcaram a maior parte do século XX, contribuindo para o fortalecimento de práticas clientelistas e patrimonialistas; ou ainda, que a universalização de direitos na sociedade brasileira é marcada por uma tradição autoritária e excludente; as novas práticas democráticas que envolvem a participação e a deliberação – na busca de um maior envolvimento cívico por parte do cidadão – foram criadas no sentido de promover deliberações públicas, encontros/reuniões abertas e processos de implementação transparentes de políticas, no intuito de superar esses legados que permeiam a cultura política do país.

Espera-se com isso que seja possível reverter o modelo de elaboração e execução das políticas públicas no Brasil, marcadas por traços hierárquicos e formas clientelísticas de representação no sistema político, substituindo-o por um padrão onde a participação popular promova um tensionamento nas agências estatais, tornando-as mais transparentes, mais responsáveis e suscetíveis ao controle da sociedade, onde se promova um constrangimento das práticas políticas autoritária.