quarta-feira, 24 de setembro de 2008

VERÍSSIMO MANDANDO BEM

Saca só o texto do cara...me lembra das bebedeiras do começo de 2002, e de como elas ficaram mais esparsas e light depois...

ah, e pra variar hj é quarta feira, 23:30 da noite e estou bebado depois de muitas doses de absolut, duas de jhonnie walker, uma pinga do zé tamba e meia dúzia de latinhas aqui na casa do Geraldo.


Hoje, existem pilulas milagrosas, mas eu ainda sou
do tempo das grandes ressacas.
As bebedeiras de antigamente eram mais dignas,
porque voce as tomava sabendo que no dia seguinte estaria no inferno.
Alem de saude era preciso coragem.
As novas geracoes nao conhecem ressaca, o que talvez
explique a falencia dos velhos valores.
A ressaca era a prova de que a retribuicao divina existe e que nenhum
prazer ficaria sem castigo.
Cada porre era um desafio ao ceu e as suas furias. E elas vinham: Nausea,
Azia, Dor de Cabeca, Duvidas Existenciais, golfadas.
Hoje, as bebedeiras nao tem a mesma grandeza. Sao inconsequentes,
literalmente.
Nao e que eu fosse um bebado, mas me lembro de todos os sabados de minha adolescencia como uma luta desigual entre a cuba-libre e o meu instinto de auto preservacao.
A cuba-libre ganhava sempre...
Ja dos domingos me lembro muito pouco, salvo a tontura e o desejo de morte.
Jurava que nunca mais ia beber, mas, antes dos trinta, "nunca mais" dura
pouco.
Ou entao o proximo sabado custava tanto a chegar que parecia mesmo uma
eternidade.
Nao sei o que a cuba-libre fez com meu organismo, mas ate hoje quando vejo uma garrafa de rum os dedos do meu pe encolhem.
Tentava-se de tudo para evitar a ressaca. Eu preferia um Alka-Seltzer e duas aspirinas antes de dormir. Mas no estado em que chegava, nem sempre conseguia completar a operacao. As vezes dissolvia as aspirinas num copo de agua, engolia o Alka-Seltzer e ia borbulhando para a cama, quando encontrava a cama. Mas os metodos variavam.
Por exemplo:
Um calice de azeite antes de comecar a beber - O estomago se revoltava, voce ficava doente e desistia de beber.
Tomar um copo de agua entre cada copo de bebida - O dificil era manter a regularidade. A certa altura, voce comecava a misturar a agua com a bebida,e em proporcoes cada vez menores. Depois,
passava a pedir um copo de outra bebida entre cada copo de bebida.
Suco de tomate, limao, molho ingles, sal e pimenta ?
Para ser tomado no dia seguinte, de jejum. Adicionando vodka ficava um bloody-mary, mas isto era para mais tarde um pouco. Sumo de uma batata, sementes de girassol e folhas de gelatina verde dissolvidas em querosene
- Misturava-se tudo num prato pires forrado com velhos cartoes do sabonete
Eucalol. Embebia-se um algodao na testa e deitava-se com os pes da ilha de
Pascoa. Ficava-se imovel durante tres dias, no fim dos quais o tempo ja teria curado a
ressaca de qualquer maneira.
Uma cerveja bem gelada na hora de acordar - Por alguma razao o metodo mais
popular.
Canja - Acreditava-se que uma boa canja de galinha de madrugada resolveria
qualquer problema. Era preciso especificar que a canja era para tomar, no
entanto, muitos mergulhavam o rosto no prato e tinham de ser socorridos
as pressas antes do afogamento.
Minha experiencia maior era com a cuba-libre, mas conheco outros tipos de
ressaca, pelo menos de ouvir falar:
Voce sabia que o uisque escoces que tomara na noite anterior era Paraguaio
quando acordava se sentindo como uma harpa guarani.
Quando a bebedeira com uisque falsificado era muito grande, voce acordava se sentindo como uma harpa guarani e no deposito de instrumentos da boate Catito's em Assuncao.
A pior ressaca era de gim. Na manha seguinte, voce nao conseguia abrir os dois olhos ao mesmo tempo. Abria um e quando abria o outro, o primeiro se fechava. Ficava com o ouvido tao agucado que ouvia ate os sinos da catedral de Sao Pedro, em Roma.
Ressaca de martini doce (essa foi a minha primeira):
voce ia se levantar da cama e escorria para o chao como oleo. Pior e que voce chamava a sua mae, ela entrava correndo no quarto, escorregava em voce e deslocava a bacia.
Ressaca de vinho (essa eu ja perdi as contas). Pior era a sede. Voce se arrastava ate a cozinha, tentava alcancar a garrafa de agua e puxava todo o conteudo a geladeira em cima de voce. Era descoberto na manha seguinte imobilizado por hortigranjeiros e laticinios e mastigando um chuchu para alcancar a umidade. Era deserdado na hora.
Ressaca de cachaca (essa entao, e melhor eu nem comentar). Voce acordava sem saber como, de pe num canto do quarto.
Levava meia hora para chegar ate a cama porque se esquecera como se caminhava:
era pe ante pe ou mao ante mao? Quando conseguia se deitar, tinha a
sensacao que deixara as duas orelhas e uma clavicula no canto. Olhava para
cima e via que aquela mancha com uma forma vagamente humana no teto que finalmente se definira.
Era o Peter Pan e estava piscando para voce.
Ressaca de licor de ovos. Um dos poucos casos em que
a lei brasileira permite a eutanasia.
Ressaca de conhaque. Voce acordava lucido. Tinha, de repente, resposta para todos os enigmas do universo. A chave de tudo estava no seu cerebro. Devia ser por isso que aqueles homenzinhos estavam tentando arrombar a sua caixa craniana.
Voce sabia que era alucinacao, mas por via das duvidas, quando ouvia falar em dinamite, saltava da cama ligeiro.
Hoje nao existe mais isto As pessoas bebem, bebem e nao acontece nada.

LUIS FERNANDO VER'ISSIMO


ah, e amanhã, as 7:00 da manhã, estarei bonzinho revisando meu roteiro de coleta de dados para a atividade de estágio e depois as 9:00 no metrópolis prestigiando o debate com meus amigos Mauro e Fernando sem nenhuma ressaca.

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